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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Principe de Astúrias




Histórico
Em 1884 Antonio Martinez de Pinillos y Izquierdo fundava em Barcelona a armadora Pinillos Y Yzquirdo Y Cia. Em 1908 a armador inaugura com os navios gêmeos Cadiz e Barcelona uma linha regular de carga e passageiros unindo a Europa a costa da América do Sul.
Com o aumento da procura da carreira para o Brasil e Prata foram encomendados nos estaleiros Russel & Co., em Glasgow na Escócia dois novos navios mistos de porte médio. Os transatlânticos Infanta Isabel e o Principe de Asturias foram lançados respectivamente em 1911 e 1913, realizando suas respectivas viagens inaugurais entre Barcelona e Buenos Aires em setembro de 1912 e agosto de 1914.

Os vapores possuíam 150 metros de comprimento, com mais de 16.500 toneladas brutas, impulsionados por máquinas a vapor do tipo Quadruple Expansion Engine, com uma potência de 1134 NHP. e dois hélices, o casco era duplo.



Os navios eram ricamente mobiliados. Os camarotes da primeira classe estavam no nível acima do convés, alguns com sala, quarto e banheiro e os mais simples apenas com quarto e banheiro. Todos, assim como também os salões públicos possuíam ventiladores.
A neutralidade assumida pela Espanha na Primeira Guerra Mundial, permitiu que os dois vapores continuassem a efetuar normalmente a carreira da América do Sul durante todo o período do conflito. A rota de travessia do Atlântico durava cerca de 30 dias, partindo a cada dia 17 de Barcelona e escalando em Cadiz e Las Palmas na Espanha, Canárias, além do Rio de Janeiro e Santos no Brasil, Montevidéu, no Uruguai, antes de atingir Buenos Aires.

A Viagem
A viagem para a América Latina de número 6 do Principe de Asturias iniciou-se em Barcelona, com escalas em Cadiz. Saiu das Ilhas Canárias e atravessou o Atlântico em direção a Santos.

A bordo estavam registrados oficialmente entre passageiros e tripulantes 578 pessoas, embora existam versões que mais de 800 imigrantes clandestinos espremiam-se nos porões fugindo da Guerra na Europa.
A bordo do navio era transportada grande quantidade de metais como: Estanho, Amianto, Cobre, Zinco, Aços, fios elétricos e vinho português. Além de 12 estátuas de bronze, componentes do Monumento "La Carta Magna y las Cuatro Regiones Argentinas" do Parque Palermo, em Buenos Aires, e supostamente um valor de 40.000 libras-ouro.


Na manhã do dia 06 de março, um domingo de Carnaval, chovia forte e a cerração tornava a visibilidade quase zero. Soprava um forte vento leste e o mar estava muito agitado e com grandes vagas, que chacoalhavam o navio.
Já na madrugada de segunda-feira a chuva ainda caia forte e a cerração anulava quase toda a visão. Ao se aproximar da Ilha de São Sebastião (Ilhabela) o capitão, José Lotina ordenou diminuição da marcha e mudança do curso em direção ao alto-mar.


O Naufrágio
As 4 horas e 20 minutos da madrugada de segunda-feira à maioria dos passageiros que estavam a bordo do vapor, já dormiam. Porém no luxuoso salão de festas do navio, a orquestra ainda tocava animadas marchinhas de carnaval, quando derrepente um relâmpago iluninou a noite escura e revelou quão próximo dos rochedos da Ponta da Pirabura estava o transatlântico.
Segundo o 2º piloto, imediatamente o comandante Lotina gritou: "É terra!", e jogando-se sobre o telégrafo de máquinas comandou "Máquinas, toda força a ré" ordenando leme todo a boreste. Não havia tempo para o cumprimento das ordens e o choque era inevitável.

Ponta da Pirabura, Ilha de São Sebastião, SP.


O navio bateu violentamente na laje submersa da Ponta da Pirabura, abrindo uma enorme fenda no casco. Segundo o relato de alguns sobreviventes com a entrada de água na sala de máquinas, duas das caldeiras explodiram, o que provocou o rápido naufrágio. O Principe de Asturias desapareceu em menos de cinco minutos, levando com sigo cerca de 450 almas. Muitos homens, mulheres e crianças foram lançados ao mar na escuridão da noite, sendo arremeçados pela violência das vagas contra o íngrime costão da ponta da Pirabura. Outros, com destino não menos cruel, pereceram presos no interior do navio, que submergiu rápida e completamente devido a grande profundidade do local.

Oficiais do navio relataram que na ponte de comando o Capitão José Lotina e seu primeiro oficial Imediato Antônio Salazar Llinas decidiram por fim a suas vidas, dando um tiro na cabeça; os corpos dos dois oficiais nunca foram encontrados.
Posição do Principe de Asturias
Após o desastre
Muitos corpos acabaram por chegar as praias da Ilha de São Sebastião e as histórias de horror, heroísmo e roubo dos cadáveres pulula o imaginário da Ilha. Alguns sobreviventes, agarravam-se a fardos de cortiça para manter-se na superfície. O navio inglês Vega recolheu muito dos sobreviventes e alguns cadáveres. Mas, a grande maioria de corpos, foram dar a baia de Castelhanos, em Ilhabela e na Praia Grande em Ubatuba.
O lugar, ainda hoje ermo, apresentava tantas dificuldades de acesso que os corpos foram enterrados na própria praia.
Os números oficiais falam em 445 mortos entre os 578 passageiros e tripulantes. Nunca foi provado que existiam imigrantes viajando não registrados. Nos alojamentos próximos da sala de máquinas e caldeiras, podiam ser acomodadas mais de mil pessoas.

Em 1989 foi autorizada a salvatagem; muitas partes dos destroços foram dinamitadas e retiradas. louças, talheres, garrafas e apetrechos de marinharia foram recuperados juntamente com parte da carga de metais.
Para este resgate foi instalado um teleférico de carga, por onde era retirado o material salvatado. Parte das estruturas de sustentação deste sistema, ainda podem ser vistos junto a Ponta da Pirabura, no costão acima dos destroços.
Em 01.10.1990 duas estátuas de mulheres do monumento argentino "La Carta Magma y las Cuatro Regiones Argentinas" foram recolhidas. Uma delas está hoje em frente ao Serviço de Documentação Geral da Marinha (SDGM), na Ilha das Cobras RJ.

Uma das pás do hélice extraída durante
os trabalhos de resgate.
foto: Jornal Informar

O Mergulho
O Principe de Asturias é considerado um dos mais difícies mergulhos do Brasil. Nele mais de um fator complicador está presente, obrigando os mergulhadores que decidam se aventura a dominar técnicas avançadas de naufrágio, além de contar com sorte para acertar a janela de bom tempo.
O mar frequentemente agitado e a longa navegação, até atingir à parte externa da Ilha Bela, já cobram seu preço na disposição dos mergulhadores.
Na imagem aérea ao lado, podemos ver como a Ponta da Pirabura funciona como um parachoques para as frentes que chegam do sul trazendo o mau tempo. Desta forma, a Ponta da Pirabura é a primeira região da ilha a receber ventos e a nebulosidade.

Ao atingir o local, os mergulhadores ainda precisam conviver com um mar sempre agitado.
Finalmente as águas escuras no fundo, com visibilidade média de 3 metros, provocam desorientação e dificuldades de movimentação pelos destroços.

Águas escuras e grande profundidade obrigam o uso de equipamento técnico e cuidado na exploração.
Os destroços estendem-se de 15 metros até perto dos 50 metros, o que pode tornar um mergulhador ávido por conhecer todo o navio um forte candidato a problemas nas águas fundas do navio.
Os Destroços
O navio está praticamente paralelo ao costão, com sua proa voltada para leste e a popa para Oeste. Como foi muito dinamitado, encontra-se desmantelado. Meia-nau e popa estão apoiadas na areia e as caldeiras estão soltas caídas no fundo.
Na faixa dos 30 metros está depositado o grande eixo, que em alguns pontos mostra flanges abertas, o que poderia evidenciar que o navio colidiu com o fundo ainda com as hélices funcionando. O hélice foi retirado na operação de resgate.